Cegueira Digital

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Reformas na cidade

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         Acho que depois que reformaram as calçadas esqueceram de colocar os orelhões de volta aos seus lugares. E eu só fui perceber isso depois que fiquei um dia sem meu celular.
Combinei com o Adriano de me encontrar no primeiro ponto da Avenida Paulista, mas como ele se atrasou (o que não costuma acontecer) fiquei em dúvida se estava no lugar certo. Decidi ligar e perguntar se já estava chegando e se vinha naquele ponto mesmo.
Olhei ao meu redor e não vi nenhum orelhão. Atravessei a avenida na esperança de achar algum, afinal em um lugar com tanta gente, tantos serviços, tinha que ter um telefone público por perto. Que nada!
Fiquei me questionando se é uma adaptação da cidade, já que a maioria das pessoas tem telefone celular e não usam mais os públicos, decidiram descartá-los. Ou será que é diante dessa dificuldade de encontrar um orelhão que todo mundo acha necessário ter um aparelho móvel?
Segundo dados da Telefônica: “em São Paulo você encontra o maior número de telefones públicos por habitante. São seis aparelhos para cada grupo de mil”.
Contudo, ao mesmo tempo a Anatel divulgou que São Paulo é um dos estados que tem mais de um celular por pessoa. Era mais fácil ter pedido um aparelho emprestado.
De tanto que meus olhos procuraram, vi que lá na curva, onde os ônibus viram para chegar no Hospital das Clínicas, tinha um orelhão. Mas o lugar era tão escuro e vazio que fiquei por mais alguns minutos, até que o Adriano chegou, sem saber se estava no lugar certo.
Com tantas coisas que consumimos, tenho que ficar atenta às adaptações da cidade. Do jeito que o número de venda de automóveis vem batendo recorde, é perigoso um dia não passar no ponto o transporte público.

14 DE DEZEMBRO DE 2009

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Hoje o Pé de Macaúba é testemunha de um dia muito especial, o qual me sinto feliz em ter participado.

Descrever esse dia não é fácil, até por eu mesma não conseguir concretizar em palavras o que ele significa. As emoções que a vida nos oferece a cada etapa e conquista são tão fortes que por vezes não damos conta da dimensão do que enfrentamos e onde chegamos e deixamos de questionar: o que mais podemos fazer?
Acredito que todas as pessoas têm alguma capacidade, e descobrir o que nos dá prazer e se empenhar nessa prática para o bem pode trazer muitas transformações na sociedade.
Pela manhã, sentada em uma sala de aula na Universidade de São Paulo, ouvia o geógrafo Adriano Rangel apresentar seu trabalho de conclusão de curso e o admirava. Não foram apenas pesquisas feitas, mas tempos dedicados, olhares atentos, curiosidade aguçada, vontade em ação, responsabilidade sobre uma cidade, sua formação social e espaço geográfico.
Acredito que não é uma etapa fechada, pois meu tão amado Adriano continuará com seu olhar crítico no “Turismo e produção do espaço em Cananéia” (nome do trabalho). Além do que ele já vivenciava essa conclusão que apresentou hoje em sala há um bom tempo.
Não sei o que é fazer e apresentar um TGI, mas acredito que é uma pequena parte de tudo que somos capazes de realizar. E que trabalho!, para todo um município que ainda não tinha sido estudado.
Foi um momento muito especial acho que para todos que estavam ali. Tentei trazer ao Pé de Macaúba um pouco do que o dia de hoje significou. Que tarefa difícil: escrever os sentimentos vivenciados! Mas que sejam como sementes que, cultivadas, crescem, formam uma grande árvore e dão frutos!


Dri, que esses momentos sempre existam, que seu trabalho possa ser visto por muitas outras pessoas. Parabéns por tudo! Inclusive pela nota “DEZ”!

Uma trilha de histórias

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A estrada que leva a uma viagem inesquecível ao passado


O caminho para o Litoral Sul paulista é muito belo. Formado por diversas espécies de árvores e flores, cachoeiras que caem entre a serra, formando uma paisagem que se vê do carro quando em direção à Baixada Santista. Mas apreciar mesmo toda essa beleza é fazer uma caminhada por meio da Mata Atlântica que compõe todo esse cenário.
Esse trajeto foi construído para o escoamento da cana-de-açúcar e, com a chegada da era automobilística, algumas mudanças aconteceram, para que os carros também pudessem passar por ali. Posteriormente, houve a construção da Rodovia Anchieta, sendo esquecida a velha estrada. Por ali, passavam apenas alguns motoristas, a fim de escapar do trânsito. Mas com a queda de duas pontes, a estrada teve de ser fechada.
Após ser restaurada, foi reaberta em 2004 para receber somente visitantes, sendo cobrada uma taxa para manutenção do Pólo Ecoturístico Caminhos do Mar. Entre descer a serra e o retorno são 16 quilômetros percorridos, com muitas curvas. Tem uma até chamada curva da morte, devido a vários acidentes que já aconteceram ali. As pessoas que vão fazer a caminhada devem respeitar os seus limites físicos e seguir as orientações dos monitores.
Do Marco Zero de São Paulo, na Praça da Sé, até a guarita de entrada do local são 47 quilômetros. É necessário acordar cedo, levar lanche, boné, água, passar o protetor solar e repelente, usar roupa e tênis confortável e não esquecer uma sacolinha para jogar o lixo, ajudando na conservação ambiental. A câmera também deve estar na mochila, pois nada pode ser arrancado, apenas fotografado, e há muito para se registrar.
O passeio começa no quilômetro 42 da estrada Caminhos do Mar. Após 15 minutos de caminhada, aproximadamente, está o Pouso de Paranapiacaba, cujo significado na Língua indígena Tupi é: “lugar de onde se vê o mar”. Este é um dos monumentos construídos em 1922 para homenagear o centenário da Independência do Brasil. A casa de pouso servia de local para descanso dos viajantes, além de ser ponto de encontro para a realização de saraus no tempo do modernismo. Os ambientes ainda guardam o ar hospitaleiro.
O canto dos pássaros e o som dos riachos e cachoeiras são descansos para os ouvidos dos paulistas. Com o passar da hora, a neblina, que às vezes está presente, se desfaz e a natureza mostra-se exuberante. “É difícil acreditar que caminho em uma estrada que liga Santos à grande metrópole paulista. O passeio é encantador, vale a pena. O clima é diferente do encontrado em meio à poluição de São Paulo. Não há tempo ruim para estar aqui”, afirmou a química Aureliana Cardoso, que saiu às 6 horas da manhã da capital para realizar o passeio.
No local onde os tropeiros e escravos descansavam foi construído o Belvedere Circular, um mirante que proporciona uma boa visão do litoral. Diferente dos outros monumentos encontrados no caminho, este não tem detalhes portugueses. A atenção nesse ponto está para o que fica em frente ao Belvedere, a Calçada do Lorena, que tem mais de 200 anos, por onde também passou a família real portuguesa. Quando os visitantes da estrada decidem aventurar-se por ela, a monitora Alice Roberta Cardoso lembra: “Sempre falo para as pessoas deixarem as mãos livres no caso de eventuais escorregões”.
Para homenagear Bernardo José Maria de Lorena, o responsável pela construção dessa calçada, há o Padrão do Lorena. Para quem deseja descer até o meio do caminho, este é o último monumento antes do retorno. Os monitores só permitem a continuação da descida para quem chega nesse ponto até as 11 horas para que se cumpra o tempo da volta, que deve acontecer até as 16 horas. O Padrão do Lorena também é muito utilizado para piquenique, como fez a professora Denise Santos, que estava com um grupo de amigos.Vamos aproveitar para uma confraternização”, disse, enquanto preparava o lanche. “Após nos reabastecermos, continuaremos a caminhada”, contou.
Quando construído, o caminho recebeu o nome de estrada da Maioridade, dedicado à emancipação de D. Pedro II. Uma casa alta, com passagens misteriosas dentro dela, representa bem este momento do Império brasileiro. O Rancho da Maioridade possui, nos azulejos das paredes laterais, imagens desenhadas que retratam os governantes do país antes da coroação do monarca.
Nos locais em que as curvas na estrada se acentuam em precipícios, são momentos de olhar para o alto e para baixo, observando tudo que compõem o lugar. O Pontilhão da Raiz marca o fim do trajeto, mas o início da subida da serra e o retorno para o km 42 da Estrada Velha de Santos. As descobertas de monumentos que contam histórias do país ainda não terminam em meio à Mata Atlântica. Curiosamente em área urbana, o Cruzeiro do Quinhentista chama a atenção para os azulejos das cores azul e amarelo, que o compõem. Ali está desenhado a chegada dos portugueses e algumas mudanças que aconteceram para quem já estava no Brasil. “Eu vim pensando na aventura que encontraria aqui, mas a história também me envolveu muito. A arquitetura e as imagens contam o que acontecia na época do descobrimento e, também, da independência do Brasil, como os azulejos que mostram a catequização dos índios. Aprender isso na escola não me chamou tanta atenção como aqui”, ressaltou o estudante Willian Carlos Alvez, de 17 anos, que fez o passeio acompanhado da família.
Embora o retorno dos 16 km seja cansativo, é impulsionado pela vontade de estar outra vez no percurso que, em meio à natureza, relata os acontecimentos e faz despertar os outros sentidos, marcando em quem o trilha uma nova história.

A maternidade na juventude

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Meninas estão deixando de brincar com bonecas para cuidarem de seus filhos. Essa realidade vem aumentando 5% ao ano, segundo apontam pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A gravidez precoce transforma a vida da adolescente que, nessa idade, começaria a entrar na fase adulta, mas que ainda não está preparada para tal responsabilidade.
A sexualidade é cada vez mais explorada. A erotização do corpo incentiva o consumismo, o que tem gerado uma banalização do desejo. O anseio pelo prazer faz com que algumas crianças já tenham relações sexuais aos 10 anos de idade.
Apesar de tantos apelos na mídia em relação ao sexo, a falta de informação é um dos indicativos do aumento dos números de gravidez entre crianças e adolescentes. A última Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, realizada em 2006, apontou que a falta de escolaridade continua como um diferencial importante. As mulheres sem instrução apresentaram uma taxa de fecundidade 3 vezes maior do que aquelas com escolaridade mínima de 9 anos, o que evidencia a importância da educação e da classe social para a prevenção da gravidez precoce.
Esse momento em que a jovem começa a entrar na fase reprodutiva da vida é caracterizado por mudanças e descobertas. O corpo sofre transformações fisiológicas e o psicológico também está em processo de amadurecimento. Por se tratar de uma etapa de mudanças, uma gravidez gera grande abalo, e a garota necessita de atenção redobrada para lidar com a situação.
Uma gravidez indesejada ou inesperada pode transformar a vida da adolescente que não havia planejado se tornar mãe. Sem orientações, os casos de morbimortalidade materna e perinatal - morte causada por problemas diversos relacionados à gravidez - podem aumentar. Para a prevenção da vida, é essencial que toda a gestação seja acompanhada por médicos e, além disso, realizados os exames para diminuir os riscos que podem aparecer devido às mudanças inerentes a essa faixa etária. O diálogo entre pais, filhos, professores, orientadores é, sem dúvida nenhuma, indispensável para o bom desenvolvimento e encaminhamento dos jovens para que a gravidez não seja um problema, e sim uma questão permeada por um sentimento humanístico que essa questão requer.